segunda-feira, 19 de outubro de 2009

ADÃO E EVA E O PECADO ORIGINAL

-Perdendo o medo de se ver no isolamento-

Lá pelos idos da década de sessenta, investida da minha natural curiosidade infantil e já nos meus questionamentos da condição humana, creio até que precocemente, perguntei à minha professorinha de terceira série primária o que significava  o pecado original. Lembro que, muito constrangida, ela me olhou desconfiada e respondeu que quando eu crescesse eu obteria a resposta que queria.

Anos se passaram. Na adolescência, pensei que aquele constrangimento da minha professorinha se devia a ela estar se referindo as questões do sexo, que tanto nos envergonhava e que ainda hoje nos envergonha, pela repressão que sofremos e nos impomos até os dias de hoje.

Muitos mais anos se passaram e a partir de ensinamentos preciosos recebidos, comecei a compreender que o mito de Adão e Eva e sua queda ou o Pecado Original que eles nos legavam, se referia na verdade à condição alienante em que nascemos. Referia-se ao esquecimento ou estado de ignorância como chegamos aqui na terra. Com uma percepção de isolamento, de separação em relação ao Todo. Entendo que esse é o nosso primeiro pecado. Esse é o Pecado Original.

A explicação sobre o mito da expulsão do paraíso: “ganharás o pão com o suor do teu rosto”, compreendo como sendo a metáfora da perda do conhecimento da origem. Pois, encarnamos e nos tornamos seres que nos esquecemos da nossa ligação com o Princípio Criador. Sentimo-nos separados, por não lembrarmos que não nos criamos e sim fomos criados e por isso mesmo fazemos parte de um Todo Cósmico.

Tenho compreendido que para ganharmos o paraíso de volta, precisamos perder o medo de nos reconhecermos no arquétipo da separação. Precisamos perder o medo de nos reconhecermos ego, condição óbvia que nos impulsiona ao egoísmo, ao isolamento. Mas ao mesmo tempo, condição também que nos permitiu e nos permite, vivermos nossas experiências únicas. São as nossas travessias próprias, com nossos erros e acertos que nos farão reencontrar o paraíso perdido, que está dentro de nós mesmos. Nesse reencontro poderemos usufruir a paz tão sonhada (para maior entendimento desse tema, recomendo a leitura e a prática da meditação Ton Glen, postada no blog do Dr. Austro Queiroz).

Passado tantos anos daquela pergunta sem resposta, aquela criança que já se sentia culpada, em pecado, hoje, adulta, inicia os primeiros passos de uma lição onde já pode entender que o Pecado Original é se pensar estar perdido da origem. Essa criança que cresceu começa a compreender que deixamos de pecar quando aceitamos a condição humana com a qual chegamos aqui na terra. Que somente aceitando que foi necessário passar por essa ilusão, vivendo sem medo as experiências egóicas, poderemos conhecer a verdade.

Verdade essa, que nós, ainda perdidos de nós mesmos, precisamos urgentemente encarnar, acessando uma consciência que, em momento algum, estivemos ou estaremos sozinhos ou isolados.

Basta levantarmos os olhos para o céu, as estrelas sempre estiveram e estarão lá, mesmo que a gente não as veja.

Iramaia