domingo, 28 de fevereiro de 2010

Medo de Finalizar Relações

Um dos medos que grassam pela nossa sociedade moderna, notadamente na ocidental, é o medo de terminar relacionamentos --- sejam eles profissionais, amorosos, simples amizades ou quaisquer outros.

É muito comum que mulheres casadas com homens ingratos, traidores, desrespeitosos, violentos até, permaneçam casadas por medo de terminar o relacionamento, e todos os pretextos para manter a relação doentia parecem muito legítimos, mas raramente passam de desculpas internas para não enfrentar o medo do fim.

E com os homens também se dá o mesmo: permanecem casados com mulheres que não os atraem, que não os estimulam, que não agregam valor em suas vidas, que não são aquelas pessoas que pareciam ser no início do casamento.

Não raro estes relacionamentos se seguram nas falácias de que os filhos vão sofrer muito com a separação; que vai sair muito caro dividir o patrimônio, quando há; de que os pais não suportariam presenciar a separação do filho ou da filha; e por aí vai a mentirada.

Com os relacionamentos comerciais ou profissionais dá-se a mesma coisa.

Muitos empregados não suportam a empresa em que trabalham, passam a maior parte produtiva de seu dia fazendo algo de que não gostam (para não dizer fazendo algo que abominam), com colegas com quem não se afinam. Mas ainda assim permanecem violentando-se diariamente, criando doenças que só materializam o mal estar que o dia a dia representa.

Muitos chefes e patrões também gostariam de mandar empregados insolentes, improdutivos, desrespeitosos embora, mas apegam-se a desculpas esfarrapadas para adiar o fim do relacionamento profissional, inventando desde preocupações (legítimas ou não) com a situação da família do empregado caso ele fique desempregado, até "medos" de represálias ou retaliações públicas.

Os trabalhadores autônomos, então, que não contam com a suposta segurança do salário garantido que têm os empregados e funcionários públicos, acabam muitas vezes por aturar clientes que nem representam lucro, que causam dissabores, que não respeitam, pela ilusão de que se "perderem" um cliente vão estar em péssima situação.

Todas estas situações acima ilustram um medo comum: o medo de dar fim a um relacionamento desgastado.

As origens deste medo podem ser muitas, mas cabe a cada um investigar qual (ou quais) traumas do passado ainda permanecem vívidos o suficiente para insuflar receios muitas vezes infundados. Cabe a cada um relativizar estes momentos traumáticos, e em vez de sufocá-los (o que implica dar mais força ao medo, que então age sem nenhuma força consciente que o limite) acolher o momento como algo necessário para o seu crescimento pessoal, conscientizando-se que desde o momento traumático até o presente a pessoa já mudou muito, está mais madura, mais inteligente, mais forte, e por isso mesmo caminhando a passos largos rumo à imunidade àquele problema.

Além disso, há que se ter uma crença em alguma Verdade Profunda (seja na lógica pura, seja na Divindade do coração da pessoa, seja nas assim chamadas "Forças do Universo", etc). E essa crença vai dar à pessoa a confiança necessária para saber que ao seguir seu coração tudo vai se ajeitar, e que o transtorno de encarar a outra pessoa e --- de acordo com cada contexto --- dizer a ela para ir embora é um preço baixo a se pagar tendo em vista o benefício vindouro.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O Medo do Sucesso

De vez em quando ouve-se por aí a expressão "medo do sucesso", que normalmente só é entendida de primeira por quem não o tem, ou já o superou.

Na verdade, como todo medo, talvez o medo não seja do sucesso propriamente dito, mas das consequências deste.

Para simplificar, vamos tomar dois exemplos hipotéticos para meditar acerca do "medo do sucesso": o sucesso profissional e sucesso nos relacionamentos. E pelo mesmo motivo de simplificar, não vamos entrar no mérito que para pessoas diferentes, conceitos diferentes de sucesso.

As pessoas que tem medo do sucesso profissional (ou das consequências do sucesso profissional) normalmente têm traços de mesquinhez, de sovinice. São pessoas que preferem ficar na mediocridade porque se fizerem sucesso e ganharem dinheiro --- aí sim vem seu verdadeiro medo --- terão que dividir o resultado de seu esforço com outros.

Talvez por ter sofrido na infância algum trauma porque lhe obrigavam a abrir mão do que era seu de direito para dar a outro que não necessariamente merecia aquele benefício.

Talvez porque tenham medo de morrer, e imaginem que compartilhando o fruto de seu sucesso venha a faltar-lhes o suficiente para sobreviver.

Talvez porque não saibam ainda que são livres e soberanas para decidir o que desejam, a cada instante de sua vida, e que não existe essa história de "ter que", a ponto de sua vontade não ser respeitada.

Da mesma forma, podemos imaginar que as pessoas que têm medo do sucesso nos relacionamentos pessoais também sofrem de mesquinhez afetiva.

Talvez sejam pessoas que na infância tenham sido privadas do amor dos pais, ou acreditaram-se assim, e na fase adulta projetam essa crença introjetada em seus relacionamentos, procurando sempre pessoas que não vão amá-las na mesma medida, ou que estejam sempre propensas a abandoná-las.

Assim, essas pessoas desenvolvem um medo profundo de ter um relacionamento saudável, porque temem o que possa acontecer depois: perder o amor de sua vida, serem abandonadas, humilhadas, roubadas no seu sentimento.

Pode ser muito fácil vencer o medo do sucesso. Basta que a pessoa tenha coragem de analisar o medo (sem ter medo do medo, por absurdo que isso possa parecer); humildade para aceitar que o medo faz parte do universo que cada indivíduo é, por isso mesmo não pode ser rechaçado sem ser antes conhecido; e honestidade para não trapacear contra si mesmo no processo de investigação do medo; e, claro, coerência para saber que ao atingir um nível de consciência mais elevado do que tinha antes a pessoa tem de passar a agir de acordo com essa nova consciência, sem achar que ser incoerente com relação à consciência alcançada seja algo pelo qual se passa impunemente.

Hipnose para Vencer o Medo

As pessoas que sofrem de paranoia, pânico, medo intenso, fobias, ou seja qual for a denominação que a ciência dê para a situação, não raro estão dispostas em algum nível a fazer o que for preciso para acabar com o medo, principalmente se a solução puder vir de um ritual, de uma pílula ou até mesmo de uma cirurgia.

Entre os muitos expedientes que a medicina tradicional encontrou para "tratar" o medo está a hipnose, que muitos pacientes e terapeutas consideram, mesmo que oficiosamente, como a "cura definitiva" do problema.

Não é.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Como vencer o medo?

Se alguém se pergunta sobre "como vencer o medo", podemos inferir que para este alguém o medo é um adversário, uma entidade abstrata (creio) contra a qual o sujeito tem de lutar.

Partindo desse pressuposto, podemos dizer que o primeiro passo para vencer o medo, assim como para vencer qualquer oponente, é conhecê-lo o melhor possível.

Só que tem um problema: as pessoas têm medo de conhecer o medo, e por isto não o conhecem realmente. Pode parecer absurdo, mas é a mais pura verdade.

O medo de conhecer o medo é um problema para quem deseja vencer o medo, porque só há uma maneira de conhecero medo: entrando nele.

Entretanto, quando a pessoa toma a resolução firme, em seu coração, de enfrentar e adentrar o medo --- o que não implica necessariamente deixar de senti-lo, longe disso --- ela está munindo-se de ferramentas que o próprio medo dá para ser vencido.

Sem querer antecipar o dever de casa de ninguém, posso dizer que minha experiência pessoal tem demonstrado que todos os medos se adiam. Quero dizer: eu não tenho medo de fazer alguma coisa, tenho medo é da consequência que tal ato possa ter, e ao olhar para esse medo da consequência surge outro medo para mais além, e assim sucessivamente.

Basicamente, os medos são originados ou no instinto de conservação ou em traumas do passado. Mesmo medos como o da solidão, o de passar apertos financeiros, ou outros "embasados" em alguma justificativa aparentemente racional comungam de uma dessas duas origens básicas.

Medos originados em traumas podem ser os mais cruéis, mas também os mais fáceis de vencer. Basta que o sujeito conscientize-se de que esta ameaça não existe mais, e que aquele momento no passado não vai mais se repetir, a não ser na mente da pessoa (aí pode ser eterno) ou se ela mesma construir o contexto para que o trauma se confirme.

Nesta categoria, dos medos originados em traumas, podemos incluir aqueles que não parecem sê-lo: medo de ficar desempregado, por exemplo. Não parece, mas é um trauma que muitas pessoas têm e por ser algo tão comum elas sequer se apercebem disso. Talvez o indivíduo nunca tenha ficado um dia na vida sem trabalho (meu caso, por exemplo), mas ainda assim ele tem medo de ficar sem os meios para viver e sustentar sua família com dignidade; este é um trauma que é reforçado diariamente, a cada hora, pelas notícias que se divulgam nos meios de comunicação em massa, pela partilha de medos e preocupações de terceiros, etc.

Já os medos originados no instinto de conservação (claro que o medo de morrer é o mais comum, mas há outros) podem ser vencidos se o sujeito conscientizar-se de que, assim como toda criatura viva na face da Terra, em algum momento ele também vai morrer. Saber-se como um ser cuja existência física vai acabar em algum momento é, acima de tudo, uma prova de consciência da condição humana.

Isto acaba levando a um outro âmbito a reflexão: o das crenças.

Não cabe a mim julgar as crenças de ninguém, e não o faço (embora não possa deixar de conjeturar sobre elas). Da mesma forma, pouco se me dá que julguem --- e principalmente que condenem --- o meu sistema de crenças. Ele me serve, e é praticamente imutável em sua essência: as adaptações que recebe no decorrer do tempo servem apenas para dar uma forma mais útil às minhas crenças, não para mudar a sua base.

A fim de vencer o medo da morte, é mister que o sujeito tenha uma crença muito sólida em algo que seja verdadeiro, ou que lhe pareça verdadeiro. Essa crença nessa Verdade Profunda, por assim dizer, é que vai dar à pessoa estabilidade, autoconfiança e energia para conhecer cada um de seus medos, mapeá-lo e seguir em frente.

Entretanto, é necessário que tudo isso esteja amarrado pelo fio da coerência, sem a qual todo esse conhecimento e esse trabalho de autoconhecimento serão meramente letra morta, conversa fiada, e em vez de vencer o medo o sujeito se deixará enrolar por ele, até ser sufocado como num ataque de jiboia.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

O MEDO DA ENTREGA

Todo ser humano nasce com um medo básico: o medo da extinção, o medo da morte. Porém, cada um desenvolve a partir desse medo básico, outros temores. Há dois temores específicos, que se entrelaçam um no outro: o medo de entregar-se ao amor e o medo de conhecer-se.

Desde Platão, há uma crença: a crença da divisão. Na sociedade grega, acreditava-se que havia existido um ser sobre-humano, um super-homem que tentara desbancar os deuses. Esse ser, era hermafrodita, pois possuía ambos os sexos. Castigado pelos deuses, esse ser foi partido em dois, homem e mulher, e desde então tem vagado pelo mundo buscando novamente ser um único corpo, uma única alma.

Assim, homens e mulheres, ao longo dos tempos, acreditaram na famosa história de encontrar sua “cara metade”, como se a falta que sentissem fosse a falta do amor de um companheiro. Encontrar esse ser que nos completa, tornou-se através da arte romântica e depois nos dias atuais, quase uma obsessão.

Porém, há quem tema esse encontro, pois o amor costuma nos revelar para nós mesmos. Eis aí, o medo que assola nossos dias: o medo da entrega. Entregar-se ao outro não significa necessariamente ter sexo com uma outra pessoa. Significa confiar segredos que não confiaríamos aos nossos amigos, significa dizermos o que pensamos e sentimos sem medo de sermos abandonados ou rejeitados, significa partilhar partes de nós mesmos que não partilharíamos com mais ninguém.

É, isso sim, ter intimidade suficiente para sermos nós mesmos, em nossa pura verdade, sem nenhuma máscara. Mas isso assusta. Porque ter intimidade com outro ser implica conhecermos muito bem a nós mesmos. E conhecer-se é um processo lento, doloroso e que demanda muita coragem. Para conhecer-se a fundo, é necessário descobrir-se falho, cheio de imperfeições e limitações, humano.

É preciso que amemos nosso lado sombrio e perverso. Que aceitemos possuir sentimentos como desconfiança, aversão, ciúme, inveja, raiva. E, tendo aceitação por essa nossa parte negra, nos aceitemos por inteiro, nos amemos em toda a nossa imperfeição. E esse é um processo muito difícil, porque no mais das vezes apresentamos aos outros e a nós mesmos, apenas os aspectos bons, dignos de serem elogiados, de nossa personalidade.

Isso porque vivemos num mundo de imagens idealizadas. Você já viu uma super modelo ter defeitos? Você já viu o ator de cinema chorar porque perdeu a mãe? O cantor de rock cheirar uma carreira de cocaína na frente da TV? O banqueiro ser preso por pedofilia? Não, você nunca viu essas imagens, porque a indústria do entretenimento e a sociedade de massas te apresentam a modelo, a atriz, o cantor e o banqueiro felizes, ricos, bonitos, perfeitos, em suma. Só você sofre, só você tem defeitos e chora por se sentir sozinho neste mundo.

Aceitar que vivemos numa sociedade que fabrica ilusões, porém, aumenta-nos o peso de termos de ser perfeitos o tempo todo. E então, face á nossa humanidade, podemos perdoar-nos por nossas fraquezas e falhas, e perdoando-nos, aceitarmo-nos tal como somos. Aceitando-nos podemos nos amar e amando-nos podemos amar a outra pessoa também. Assim, o medo do amor é na verdade o medo de si mesmo.

Portanto, amando a si mesmo podemos abrir nossos corações para que outra pessoa chegue. Uma pessoa que tem individualidade e personalidade próprias, mas que pode partilhar experiências de vida conosco, que pode partilhar visões de mundo conosco, que pode partilhar momentos de felicidade e tristeza conosco. E assim, ensinar-nos que o amor é um sentimento mais profundo.

Que o amor não se dá apenas na superfície, que para ele se realizar é necessário amarmos o todo de nós mesmos e do outro. E o TODO implica o lado bom e o lado ruim. Implica as fraquezas e as qualidades, os defeitos e a capacidade de doar-se. Implica que aceitemos a nós mesmos e ao outro por INTEIRO. Só desta maneira podemos visualizar o que há de divino em nós e no outro e assim, chegar á síntese tão sonhada pelos gregos.

E descobriremos ao final que não nos faltava nada, que estávamos preenchidos o tempo inteiro, bastava que buscássemos a nós mesmos! Bastava que nos conhecêssemos! E amássemos a nós mesmos integralmente! Alguém disse, não lembro quem, um verso assim: conhece-te a ti mesmo e conhecerás os mundos e os Deuses. Junto a este verso um outro, vindo do Mestre Jesus: ama ao próximo como a ti mesmo. Eis aí, todos os segredos revelados. Eis aí a solução de nossos medos mais profundos.

Lívia Petry

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Medo da Solidão

Existe um Mestre, Osho, que nos fala das diferenças entre solidão e solitude. Solidão, seria estar num sentimento de falta ( falta algo em nossa vida, falta alguém que nos preencha). Solitude seria um sentimento de preenchimento – estou sozinho por minha conta e pleno de amor, pleno de Deus. Por isso, Osho dizia que enquanto a solidão era um veneno, a solitude era a porta de entrada para o Divino em nossas vidas.

Hoje em dia, as pessoas costumam temer a solidão, a sensação de falta. Se repararmos, tudo em nossa sociedade funciona de acordo com uma dualidade: falta ( ou desejo) e preenchimento (ou consumo). Assim, as propagandas ao nosso redor criam-nos faltas imaginárias: o carro do ano, a casa num tal condomínio, a roupa de tal marca, o relógio da moda.

São carências que na verdade, não temos. Porém, elas são construídas dentro de nós com muito cuidado. Lembro da propaganda de um automóvel que mostrava uma mulher e um homem profundamente enamorados um pelo outro e ao fundo, tocava uma música que dizia: “ quando a luz dos olhos teus e a luz dos olhos meus se encontrar, então a luz dos olhos meus precisa se casar” A propaganda era um convite ao Amor, ao que há de mais sublime entre um homem e uma mulher. Pergunto: quantos de nós não seriam capazes de comprar o tal carro motivados pelo desejo de encontrar um amor verdadeiro? Eis aí, o truque da propaganda.

Eis aí a Sociedade de Consumo. Sentimos uma falta que nem sequer sabemos detectar qual é, mas carregamos a certeza que comprando um produto, teremos a ilusão de suprimi-la. Na realidade, nossas faltas se multiplicam ad infinitum, pois somos sempre estimulados a desejar algo e geralmente algo difícil de atingir, caro para se comprar, algo que nos preencha e que nos pareça de uma riqueza inabalável.

Não é à toa que volta e meia escutamos: isso é EXCLUSIVO, isso é para os VIPS, isso é ESPECIAL. Sim, é desta maneira que gostamos de nos sentir: Very Important Person, uma pessoa muito importante, uma pessoa única, uma pessoa especial. E vamos em busca dessas sensações. No entanto, há uma falta que o consumo não preenche. E que surge quando estamos em casa, sem televisão ligada, sem computador ligado, sem filhos, sem vizinhos, sem cachorro por perto. Quando estamos completamente em nossa companhia. Imersos em nós mesmos.

Então, surge a solidão. E o medo da solidão é avassalador. Mas de onde vem esse medo? Esse medo vem do sentimento de que somos pequenos, frágeis, vulneráveis. De que não somos completos ou perfeitos. De que precisamos de algo que nos faça perfeitos e completos. Nas horas em que estamos na nossa companhia, temos medo de encarar nossas falhas, nossos fantasmas, nossas fraquezas. Temos medo de nos olharmos no espelho da nossa alma e enxergarmos mais do que gostaríamos de ver.

Quem bebe muito, tem medo de ver o reflexo do alcoolismo, quem é desconfiado, tem medo de enxergar o reflexo da paranóia, quem faz sexo em excesso, tem medo de ver a compulsão refletida. E toda vez que nos enxergamos, somos capazes de entender nossas feridas, de conhecê-las melhor, de ir além das nossas limitações. Somos capazes de mudar nosso destino e nossos comportamentos. O medo da solidão, assim, também é o medo da mudança, da transformação de si mesmo.

Preferimos ficar agarrados ao que já conhecemos. Preferimos permanecer na superfície e não ter de olhar pra dentro de nós. A solidão assusta porque ela é uma ferramenta poderosa de auto-conhecimento, e ninguém quer se conhecer realmente. Porque dói. Porque enxergar nosso lado sombrio ás vezes machuca nosso ego, nossas certezas, nossa auto-estima. Ver que não somos apenas amor e bondade, mas também egoísmo e inveja, destrói a imagem perfeita que fazemos de nós mesmos para os outros e para nós.

Por isso, buscamos subterfúgios: ligamos o computador, falamos ao telefone, assistimos TV até tarde da noite. Estamos sempre em fuga, fugindo de nós mesmos, fugindo da sensação de estarmos conosco, sozinhos. Porém, quando descobrimos que não é necessário temer nossas sombras, quando descobrimos que podemos aceitar e amar nossas falhas, perdemos o medo da solidão. Se conseguíssemos olhar para nós e amar inclusive os defeitos, veríamos que já somos completos, que já somos perfeitos, que não necessitamos de nada que nos preencha, já estamos preenchidos!

Sou perfeita quando sinto ciúmes, sou perfeita quando desconfio de alguém, sou perfeita quando tenho vontade de fazer apenas o que quero, sem me importar com mais nada. Alguém nos disse um dia, que era FEIO ser egoísta, e ciumenta, e paranóica. Ninguém nos ensinou que defeitos, falhas, fraquezas, fazem parte de nós assim como a bondade e o amor!

Ninguém nos ensinou que antes de mais nada é necessário ACEITAR E AMAR  todos os nossos aspectos, inclusive e eu diria, PRINCIPALMENTE, os ruins! Porque é justamente por não nos perdoarmos e aceitarmos que sofremos. Sofremos porque sempre temos algum defeito visível. Porque temos a certeza de que não seremos amados ( se formos ciumentos, possessivos, egoístas, desconfiados).

Mas Deus é tão prodigioso, que volta e meia encontramos alguém que nos ama POR INTEIRO. Seja nosso pai ou mãe, seja um companheiro, amigo, colega de trabalho. E é nessas horas que descobrimos o segredo: que somos amáveis! Por inteiro! A Luz e a Sombra! As qualidades e as falhas! E aí, já não precisamos mais temer a solidão! Podemos transformá-la em solitude, em preenchimento, em plenitude, porque finalmente podemos estar inteiros diante de nós mesmos!

Amando-nos a nós próprios sem restrições!

Lívia Petry

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Além do Horizonte do Medo

Estava aqui ouvindo esta canção do Roberto Carlos (e Erasmo), Além do Horizonte, e fiquei pensando que horizonte é esse além do qual a alegria e a felicidade existem, e onde se pode viver em paz num paraíso de amor.

Ora, a (minha) resposta veio imediatamente: só pode ser o horizonte do medo. Qual mais seria? E aqui não falo de medo específico, e sim do medo comum a todos os seres vivos, seja ele medo de morrer ou medo de avião.

Mas todo medo terreno aponta para um medo maior, mais alto: o medo de não existir depois que a matéria se for. Pois o medo de estar separado, excluído, de estar sozinho na terra e distante de Deus nos leva a pensar em como é isso depois de passarmos desta para melhor. Mesmo os que negam a Deus, ou o Criador, o Cosmos, Universo, ou o nome que Ele receba em cada cultura, ou seja, os ateus, será que eles deixam de pensar seriamente sobre o que restará depois da morte física?

Já ouvi pessoas que não acreditam em vida espiritual após a morte do corpo defender esta ideia com unhas e dentes numa hora, mas em outra entram em dúvida, e hesitam na própria afirmação, ficando com medo de que seja diferente.

Mas pelo menos podemos pensar a questão, indo além do limite do medo de as coisas não serem como a gente imagina. Indo além do nosso próprio ego, que é nossa memória morta do passado, podemos nos conceber como seres com alma, espírito e consciência, e que esta consciência não acaba depois da morte física. Para isso, precisamos deixar de pensar esta ideia para além do sentimento comum a todos os seres encarnados, que é o medo da morte.

Tem um conceito interessante sobre isso que me lembrei outro dia, que é: nós somos aquele que continua, ou seja, o "eu" em nós que está vivo, presente no momento presente, independente de tudo que tenhamos passado e das sequelas que temos ainda disso, mentais, emocionais ou físicas. Eu sou aquele que continua vivo no momento presente, atento ao que se passa comigo aqui e agora. E isto é o que vale, apesar de qualquer coisa boa ou ruim que pensemos de nós mesmos.

Voltando então à canção do Roberto, entendo que para conhecer o Paraíso de Amor, a gente precisa ir além do horizonte do medo, qualquer que seja ele, da maneira que cada um puder e no tempo que puder.

Pois a ideia aqui é de vencer o medo, superar a si próprio, ir além do nosso horizonte limitante de medo, que é o famoso único inimigo (interno) que temos, como dizem os orientais, encarando-o, entrando nele, para aprender a sair dele.

Boa meditação,

Gentil.

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Vamos então à música do mestre Roberto Carlos, que nos incentiva a procurar o que está além do horizonte. Vejam esta bela versão desta canção, que acho de arrepiar, numa parceria com Jota Quest (eles mudam a letra um pouco na apresentação, fazendo improvisos; mais abaixo, uma versão somente do Jota Quest):

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Além do Horizonte deve ter

Algum lugar bonito
Prá viver em paz
Onde eu possa encontrar
A natureza
Alegria e felicidade
Com certeza...

Lá nesse lugar
O amanhecer é lindo
Com flores festejando
Mais um dia que vem vindo...

Onde a gente pode
Se deitar no campo
Se amar na relva
Escutando o canto
Dos pássaros...

Aproveitar a tarde
Sem pensar na vida
Andar despreocupado
Sem saber a hora
De voltar...

Bronzear o corpo
Todo sem censura
Gozar a liberdade de uma vida
Sem frescura...

Se você não vem comigo
tudo isso vai ficar
no horizonte esperando
por nós dois

Se você não vem comigo
nada disso tem valor
de que vale o paraíso
sem amor

Além do Horizonte
Existe um lugar
Bonito e tranqüilo
Prá gente se amar...

Lá Larálarálarálará Lalá
Lá Larálaralarálará Laralá
Lá Laralaralarálará Lalá
Lá Larálarálarálará Laralá...(2x)

Se você não vem comigo
Tudo isso vai ficar
No Horizonte
Esperando por nós dois...

Se você não vem comigo
Nada disso tem valor
De que vale o paraíso
sem Amor...

Além do Horizonte
Existe um lugar
Bonito e tranqüilo
Prá gente se amar...

Lá Larálarálarálará Lalá
Lá Larálarálarálará Laralá
Lá Larálarálarálará Lalá
Lá Larálarálarálará Laralá...(2x)

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O melhor é viver sem medo

Ouvindo esta canção da Rosana Arbelo, cantora espanhola (nascida em 1963), Sin Miedo, que um amigo meu de Barcelona me enviou, me lembrei que quando eu era criança eu sonhava constantemente com as coisas que eu queria fazer na vida. Eu não tinha medo de sonhar, pois naquela época eu era um sonhador. E hoje me dou conta que realizei o que eu sonhava naquela época, e muito mais.

Quando eu era pequeno, morando no interior de Minas Gerais, meu maior sonho era morar numa cidade grande e fazer faculdade. E isso faz tempo que fiz: me graduei em Letras em 1991. Na graduação, sonhei em traduzir as Folhas de Relva de Walt Whitman, o que comecei no mestrado, continuei no doutorado, estando agora continuando neste trabalho (publicado no site Poesia de Whitman). Durante esse tempo, sonhei em publicar meus escritos e traduções, o que também fiz e estou fazendo. E agora, quando eu achava que tinha parado de sonhar, recordei a minha infância e estou vendo que posso continuar sonhado com o que quero pra mim, posso ser de novo um sonhador. E esta canção me ajudou a lembrar isso mais ainda, até porque o divino é o tema mais alto e freqüente abordado por Whitman em sua poesia. Segue o vídeo da música com a letra abaixo (a canção A Fuego Lento também é dela).



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SIN MIEDO (Rosana)

Sin miedo sientes que la suerte está contigo
Jugando con los duendes abrigándote el camino
Haciendo a cada paso lo mejor de lo vivido
Mejor vivir sin miedo

Sin miedo, lo malo se nos va volviendo bueno
Las calles se confunden con el cielo
Y nos hacemos aves, sobrevolando el suelo, así
Sin miedo, si quieres las estrellas vuelco el cielo
No hay sueños imposibles ni tan lejos
Si somos como niños
Sin miedo a la locura, sin miedo a sonreir

Sin miedo sientes que la suerte está contigo...

Sin miedo, las olas se acarician con el fuego
Si alzamos bien las yemas de los dedos
Podemos de puntillas tocar el universo, sí
Sin miedo, las manos se nos llenan de deseos
Que no son imposibles ni están lejos
Si somos como niños
Sin miedo a la locura, sin miedo a sonreir

Sin miedo sientes que la suerte está contigo...

Lo malo se nos va volviendo bueno
Si quieres las estrellas vuelco el cielo
Sin miedo a la locura, sin miedo a sonreir.

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terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Morihei Ueshiba: documentário sobre o grande Mestre

Caros leitores,

incluo aqui um documentário sobre o grande Mestre Ueshiba, um material raro e único. Ele está em cinco partes e é narrado em inglês. Mas isso não nos impede de apreciar as imagens, os movimentos e os treinos:


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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Morihei Ueshiba: a verdadeira vitória é a vitória sobre si mesmo

Morihei Ueshiba (1883-1969), o criador do Aikido, também era mestre do Judô, Kendô e Jujutsu. Também foi o fundador da Aikikai, a Fundação que promove desde o final da segunda guerra mundial o Aikido pelo mundo.

Um dos fundamentos do Aikido é a não-violênica, o não atacar. Só o fato de você querer dar o primeiro golpe em alguém já significa treinamento insuficiente.

Isso também quer dizer que o único oponente, ou inimigo, é a própria pessoa.

Assim, a verdadeira vitória é a autovitória, a vitória sobre si mesmo, no presente, contra os inimigos internos.

Os mais perigosos, na visão de Ueshiba, são: o medo, a raiva, a confusão, a dúvida e o desespero.

Quando conseguirmos superar esses adversários de nossa paz interior, estaremos prontos para superar qualquer ataque exterior, pelo simples fato de que não estaremos mais expostos a eles e saberemos evitá-los, assim como os vencemos internamente.

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Para obter mais informações sobre Mestre Ueshiba, recomendo a vocês dois livros excelentes sobre o Caminho do Guerreiro: Segredos do Budo, de John Stevens, e Três Mestres do Budo, do mesmo autor, ambos pela Editora Cultrix.

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A relação de oponentes internos criada pelo grande Mestre, a serem superados por qualquer ser humano, e não apenas pelos seguidores do Caminho do Guerreiro, foi ampliada por um discípulo de Mestre Ueshiba, o Dr. Austro Queiroz, fundador/conceptor do Zen Budo: o Dr. Queiroz criou o Jogo do PAS, que é o Programa de Auto-Superação. Nele, há dez passos a serem percorridos para se chegar à Paz Interior. Os 9 primeiros passos desses dez podem ser também vistos como inimigos internos a serem vencidos. Embora estejam numa ordem diferente da fornecida pelo Mestre japonês, neste jogo os cinco primeiros passos são os mesmos:

1. medo,
2. raiva,
3. dúvida,
4. confusão,
5. desespero,
6. alienação,
7. demência,
8. exaustão,
9. morte,
10. renascimento.

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Você também pode acessar o Jogo do PAS pelo Blog do Jogo do PAS.

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sábado, 16 de janeiro de 2010

Alfred Webre: despertando para uma era de luz e amor

Alfred Webre, Juiz Internacional da Corte de Kuala Lumpur, ex-assessor do Presidente Jimmy Carter (1977) e Presidente de Exopolítica, fala sobre a humanidade, nossas almas, multidimensionalidade, interdimensionalidade, extra-terrestres, luz e amor, escuridão, cérebro reptiliano, vaticano, corrupção, Rothschilds, Rockefellers, Bush (senior e junior), Obama, Império Romano, dinheiro, poder, urânio radioativo, viagens no tempo, Gripe A, Sionistas, visão remota, Unidade Cósmica e o destino da humanidade e do planeta terra numa entrevista concedida na Espanha.

Assistam a esta importantíssima entrevista neste vídeo (ele fala em espanhol, de uma maneira bem pausada e fácil de entender para falantes de português):


Entrevista Alfred Webre from Manel Macià on Vimeo.

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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Medo, fobia ou simples paranoia?

Estava lendo um artigo sobre a diferença entre medo, fobia e pânico, chamado Você tem medo de quê?.

Nesse artigo, os especialistas descrevem o medo, que dizem ser natural, que gera o processo clássico de luta ou fuga. Como essas reações eram naturais em contextos antigos, elas hoje provocam simplesmente o estresse, pois não estamos mais num ambiente em que podemos sempre lutar ou fugir. Ou seja, hoje nós racionalizamos isso, e na maioria dos casos não conseguimos resolver o problema, nos tornando pessoas estressadas pelo acúmulo de reações controladas de luta ou fuga.

Eles também descrevem na mesma matéria as fobias, como um medo aumentado, mas sem a causa do medo, ou seja, é uma reação sem objeto, que aparece apenas como um fantasma de algo que aconteceu em algum momento do passado.

Para dizer de maneira bem direta, uma fobia é uma paranoia, um medo gerado pela memória de um momento traumático vivido numa realidade que não existe mais. É como um programa que fica rodando automaticamente toda vez que se aperta determinada tecla.

E depois disso tudo vem o pânico, que é uma reação extrema totalmente irracional advinda de uma paranóia. Tanto que podemos sempre dizer que temos medo de algo (o objeto do medo é identificável), mas não pânico de algo. Pânico é pânico, não tem razão causal ou racional de acontecer. Mas acontece. Nessa hora, assim como nas fobias, a única coisa possível de se fazer é respirar fundo, inspirando e expirando pausadamente, para poder botar os nervos no lugar, focalizando mais a expiração do que a inspiração, pois temos mais excesso de ar do que falta dele.

Posso dizer isso de cadeira, pois já passei pelo pânico algumas vezes, e literalmente só a busca de calma através da respiração me salvou.

Para mim, os aspectos mais importantes desse processo é entender que uma fobia é uma memória passada, um programa, que se apresenta no presente como paranoia, ou seja, medo de que vá se repetir (é o passado gerando o futuro, e tirando a pessoa do presente). Por isso é preciso lembrar que isso é irreal, pois o que passou é passado, não vai se repetir. É mais importante trabalhar esta ideia, ou seja, focar o presente,  e verificar no contexto presente que ele não tem mais a causa do passado.

E trabalhar a respiração, que é um exercício físico/fisiológico que nos mantém no presente. A RESORI, ou Respiração Original é um excelente método para isso.

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domingo, 3 de janeiro de 2010

Como levar a vida em paz

Yamamoto Tsunetomo, grande samurai do século 18, escreveu o Hagakure, que é o Livro do Samurai que nos entrega os ensinamentos do Caminho do Guerreiro. Estes escritos dele foram produzidos depois que se retirou da vida de vassalo, quando seu senhor feudal morreu e a nova legislação proibia aos samurais de cometerem seppuku (suicídio ritual conhecido popularmente como harakiri). A partir daí ele levou uma vida reservada, de monge.

No capítulo II, pág. 103, da edição da Conrad, ele nos ensina:

"A vida do ser humano é realmente curta. A melhor maneira de viver é levar a vida fazendo o que você gosta. É tolice passar a vida toda envolvido pela ilusão que é este mundo, vendo coisas desagradáveis e fazendo apenas coisas de que não gosta. Mas é importante não dizer isso aos jovens, pois seria prejudicial se não fosse compreendido corretamente.

Quanto a mim, gosto de dormir. Pretendo me confinar cada vez mais dentro do meu quarto e passar a vida dormindo."

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