Caso 48: Chá no Templo Shôkei
O ministro Ô[1] visitava o Templo Shôkei, onde ele ofereceu chá. O monge sênior Rô pegou a chaleira para servir Myôshô[2].
Mas Rô virou a chaleira (sobre a bandeja de chá). O ministro viu isso e perguntou ao monge sênior, “O que há sob a bandeja de chá?”
Rô disse, “Divindades segurando a bandeja.[3]”
O ministro disse, “Se há divindades segurando a bandeja, por que elas viraram a chaleira?”
Rô disse, “Milhares de dias de bom serviço – tudo é perdido em uma manhã.”
O ministro agitou suas mangas e saiu.
Myôshô disse, "Elder Rô, você comeu muito arroz no Templo Shôkei, e no entanto você é simplesmente um toco [inútil] no campo.”
Rô disse, "O que você teria dito, Mestre?"
Myôshô disse, "Estes seres não-humanos[4] fizeram um estrago.”
(Setchô disse, "Naquele momento eu teria chutado a bandeja de chá.")
[1] O ministro Ô era um patrono do Templo Shokei.
[2] Myôshô era mais velho que Rô. Ele era o abade do templo vizinho e aparentemente foi convidado para o chá também.
[3] As pernas da bandeja de chá eram em formato de semideuses.
[4] Isto é, as "divindades que seguram a bandeja".
Esse conto é bastante estranho, como toda estória zen. Vejamos alguns detalhes: “hearth” significa lareira (neste caso, seria uma lareira móvel para aquecer a chaleira; no oriente há lareiras no chão; mas esta tem pernas, ou seja, é elevada; assim, traduzi como bandeja); “Elder” significa ancião, ou mais velho; neste caso não dá pra saber se é o nome do monge ou se ele está sendo chamado de ancião, posto que Myôshô é mais velho que Rô.
A expressão “comeu muito arroz” eu deixei no literal, pois tem um significado evidente, de que o monge está há muito tempo naquele local. E o Setchô sempre faz comentários mais estranhos ainda. A menos que alguém apareça com uma tradução melhor, vamos deixar assim, com essa atmosfera tipicamente zen.